O Espiritismo e seus fundamentos

18 - 08 - 20

João Figueiredo

O Espiritismo é uma Doutrina codificada por Allan Kardec (pseudônimo adotado por Leon Denizard Rivail Hippolyte), professor, filólogo e tradutor francês no século XIX. Encerra em si um tríplice aspecto: 

Científico > quando observa, cataloga e explica os fatos nas nossas relações com os Espíritos; 

Filosófico > quando trata das consequências morais advindas dessa relação e

Religioso > já que segue o Evangelho de Cristo. 

Podemos defini-lo como uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos.

Desde seu início, a nova Doutrina (como tudo que é novo) sofreu antagonismos e perseguições por parte de vários setores da Sociedade da época, dentre outros da Igreja Católica que via ameaçado seu poder, o ceticismo e o preconceito de outros com acusações de fraudes e mistificações (algumas na verdade ocorreram). 

Ilustração sobre as Mesas Girantes, Paris, 14 de maio de 1853

Teve início a partir das observações feitas por Kardec do fenômeno das “Mesas Girantes”, que depois de um longo processo evoluiu para as comunicações com os Espíritos, trazendo informações do que ocorre após a morte.

As informações dadas pelos Espíritos foram então compiladas por Kardec (num processo longo e meticuloso), dando origem a diversas publicações (A revista Espírita entre outras), e os cinco livros que constituem o Pentateuco Espírita: 

> O Livro dos Espíritos, 1857

> O Livro dos Médiuns, 1861

> O Evangelho segundo o Espiritismo, 1864

> O Céu e o Inferno, 1865

> A Gênesis, 1868

Os princípios

E cinco são também os Princípios em que se apoia a Fé espírita, professada pelos seguidores da Doutrina, conhecidos como Postulados:

Primeiro Princípio | É a  crença na existência de Deus. 

Na definição do Que é Deus? Encontramos no O Livro dos Espíritos:

Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. É imutável, imaterial, único, onipotente e soberanamente justo.

Segundo Princípio | A imortalidade da alma, princípio que é partilhado por todas as religiões chamadas de Espiritualistas.

Os Espíritas creem, além da imortalidade da alma, na reencarnação (volta da alma em um outro corpo), não aceito por todas as religiões (todo espírita é espiritualista, mas nem todo espiritualista é espírita). Na pergunta 222 do Livro dos Espíritos encontramos um longo comentário sobre o assunto.

Terceiro Princípio | A pluralidade das existências ou a crença na reencarnação.

É talvez o ponto que mais suscita divergências com as outras crenças. Na questão 171 do O Livro dos Espíritos encontramos:

Todos os Espíritos tendem à perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça porém, lhes concede realizar em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.

Quarto Princípio | A pluralidade dos Mundos habitados.

Segundo a Ciência, existem, provavelmente, dois trilhões de Galáxias no universo observável, contendo mais estrelas do que grãos de areia no planeta Terra (Wikipédia). É um contrassenso crer que só o nosso planeta seja habitado. Encontramos no Evangelho segundo o Espiritismo, cap.III: 

Não se turbe o vosso coração crede em Deus crede também em mim , há muitas moradas na casa de meu Pai.

Quinto Princípio | Sobre a comunicação com os Espíritos.

O  fenômeno da comunicação com os Espíritos através dos Médiuns (do latim meio) é observado desde o início na História da Humanidade, começou com o Mediunísmo Primitivo (com o culto dos antepassados).

Prossegue no Egito Antigo, de onde os Hebreus quando lá no cativeiro assimilaram a prática, que depois foi proibida por Moisés (no Deuteronômio) por causa dos abusos (só se proíbe o que é possível).

Sócrates e o Oráculo de Delfos

Continua na Grécia Antiga com o Oráculo de Delfos e Sócrates que afirmava que muitas de suas ideias lhes eram intuídas pelo seu “Daimon” demônio (na verdade  um Espírito mentor), naquela época a palavra demônio não tinha o significado depois atribuído pela Igreja Católica de um Ser maligno, em Roma encontramos a sibilas.

O contato com os Espíritos e a crença na reencarnação eram preceitos aceitos e praticados pelos primeiros cristãos, só passando a serem proibidos à partir do século XIV, com os Concílios de Nicéia (2 dois – 325/787), além de outros Concílios em Constantinopla e Éfeso. À partir daí começaram as perseguições e durante toda a Idade Média, centenas de pessoas foram executadas, acusadas de bruxaria por manterem contato com os Espíritos. Num período posterior, mesmo já não sendo mortas, essas pessoas eram classificadas como loucas e internadas em asilos onde permaneciam até a morte.

E assim vemos que a interação entre Encarnados e Desencarnados, foi sempre uma constante, tendo as pessoas que tornam possível essa comunicação (os médiuns) em diferentes épocas ora exaltados, ora execrados. A chegada do Espiritismo trazendo explicações e esclarecimentos sobre o “mundo” dos Espíritos e suas leis, veio mostrar que nada existe de sobrenatural nos fenômenos observados podendo os mesmos serem explicados de maneira racional. O Livro dos Espíritos traz na questão 87:

Os Espíritos estão por toda parte, muitos deles ao nosso lado observando-nos e atuando sobre nós sem que percebamos. 

E no livro dos Médiuns questão 226, que a faculdade da mediunidade “Se radica no organismo”. É, portanto, uma predisposição orgânica e independe do desenvolvimento moral do médium.

Apesar de ter surgido há mais de duzentos anos, a Doutrina Espírita ainda é vista com desconfiança e é alvo de críticas por parte dos que não a conhecem, daí a necessidade dos Espíritas estudarem seus fundamentos, não para conseguir novos adeptos (já que esse não é o objetivo precípuo), mas para estar apto a se contrapor às críticas.

Bons estudos e muita paz e luz à todos!

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