Texto: Júlia Albuquerque
Aqui se inicia uma escrita para dar voz a quem por tantas vezes foi/é posta à margem, aqui um espaço para memória e manifesto, pois Espiritismo é construção sedimentada na crítica, na postura ética – do grego ethos que significa morada – que acolhe, na transformação do conhecimento, na escuta do clamor silencioso de quem sofre opressão e na boa luta para a construção e uma sociedade mais justa, sem segregações, humilhações e sem venerações.
Na história se tornou comum – o que está muito longe de ser normal – silenciar mulheres, com a opressão, a servidão ou a morte. “Cala-se” até que calar é mais difícil do que gritar, “se esquece” até que esquecer é mais doloroso do que lembrar. E por isso estamos aqui, mulheres e homens que reconhecem a força e a expressão honesta do feminino para fazer valer a voz de Jaci, de Ceuci, de Oxum, de Iemanjá e todas as Iabás (Obirinxás), de Deméter, de Perséfone, de Shakti, de Eva, Maria Mãe de Jesus, de Maria Madalena, de Joanna D’Arc, de Nhá Chica, de Santa Dulce, de Jetsunma Tenzin Palmo, de Joanna de Ângelis, de Madame Kardec, de Malala Yousafzai, de todas as curandeiras, rezadeiras, cozinheiras…dentre tantas outras presentes nas mitologias, nas fantasias e nas páginas da história dessa humanidade terrena ainda tão iniciante no processo de Ser.
A força do feminino
Em tempos longínquos da nossa humanidade, quando ainda em tribos de caçadores/coletores não havia distinção qualitativa de gênero. Em que ponto desviamos do caminho que nos agrega e tomamos o rumo da imposição da força bruta sobre a sutileza? Quem – erroneamente – classificou como fraca a estrutura geradora de vida, de alimento, que transcende os limites do corpo para maternar novos seres?
Capturemos então o prefixo trans que fundamentalmente quer dizer ir além ou além de. Percebemos que transcender é quebrar a barreira do uno e do binário. É admitir a soma, e entender que a diferença não nos separa, mas nos complementa. É chegado o tempo de olharmos para o feminino como força e potência e não como fragilidade ou imperfeição. É chegada a hora de entender que feminino é crescimento, política, educação, é arte, é potência, transformação. Ir além e criar outras, novas, múltiplas formas de sermos gente.
Estamos aqui falando em um espaço espírita, um espaço de abertura e expansão de consciência, pautado em uma ciência de valor filosófico e com implicações de certa maneira religiosas, então, tomemos a religação da energia fundamental da existência humana, a pulsão (ou impulso) de vida, uma energia impalpável, mas que se manifesta nos corpos em ação. É importante nos lembrarmos que os corpos nos colocam em relação, nos garantem vida na matéria e são eles os violentados (para além dos espíritos) quando negligenciamos sua importância. Quando negligenciamos o prazer e o cuidado que nossos corpos merecem, estamos abrindo caminho para a violência. Tantas violências de tantas ordens sofre o feminino e os corpos das mulheres…
Chamamos a Terra de mãe, dela tiramos nossos alimentos, usufruímos de matéria prima para desenvolvimento de todas, absolutamente todas, as nossas tecnologias – mesmo as mais danosas a ela. A Terra é corpo, é feminina. Fértil. Ela não nos impede, é generosa, é abundância. Pensando em nossa materialidade e na força de nossas ações, o que estamos fazendo para retribuir o que nos é oferecido? Estamos, mesmo em condições de reflexão, construindo algo para além da dominação mercantilista, utilitarista, escravista e inquisitora que calou/cala, matou/mata tantas de nós? Estamos nós sendo agentes de nutrição dessa Terra que tanto nos oferece e nos cuida?
Escuta o que a professora Belinda Mandelbaum no vídeo “A mudança do lugar da mulher na sociedade”. Uma análise sobre a trajetória da mulher, tão controversa. Ela nos instiga a entender mais essa caminhada. O vídeo é da Casa do Saber e está no seu canal no YouTube.
Pensar no feminino
Pensar o feminino, é pensar em revolução. Revolução pela criação, pela criatividade, pela força de gerar – vida, arte, cultura, produto, ideia, mas também de saber podar para fortalecer raízes, para deixar ir o que não serve mais e isso alimentar a terra que assim terá mais recursos para nós e para todas. Pensar o feminino no espiritismo e na espiritualidade é permitir romper com os padrões que foram impostos às nossas mentes e nos fizeram acreditar que regras são absolutas e nos levaram a esquecer que em Deus não há sensibilidade maior do que a grande potência de ter nos oferecido um mundo de diversidade para que aprendamos a pôr em prática a maior de todas as leis: Amar.
A professora Lúcia Helena Galvão faz uma grande provocação: “O ideal feminino – o que pode trazer plenitude e felicidade à mulher?” O vídeo é uma bela aula que está no canal do YouTube da Nova Acrópole Brasil. Respira e dá o play para conferir:
O feminino que habita em todos
Essa energia vai além do gênero, ela está presente em todos os seres vivos. Como reconhecer? Quais suas características?
Juliana Villacorta faz um convite para que entendamos mais sobre essa vibração e traz uma reflexão de como ela impacta não só o indivíduo, mas no coletivo, nas decisões e rumos de uma sociedade, do planeta…
Respira e se conecta ao feminino para dar o play e assistir Juliana.
Dicas da Biblioteca
As meninas da Biblioteca da Quinta de Luz fizeram uma série aqui no site indicando livros sobre “Mulheres no Cristianismo”. Aproveita e confere o material.
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